26 abril, 2006

O Orelhas


Paulo Travassos

Parece um insulto mas é um elogio. No caso até serve de publicidade. O Paulo, é há trinta e seis anos um senhor de orelhas generosas. Desde o berço que a coisa se nota sem disfarce possível. Na escola, o baptismo não se fez esperar.
Os colegas, que conseguiam ser no mesmo dia o cúmulo da generosidade e o topo da crueldade, não lhe pouparam reparos à medida dos "abanos", e ele, divertido e despreocupado, que conviveu com a alcunha sem problemas ao longo de muitos anos aproveitou a deixa para a promissora carreira profissional. Hoje há um restaurante que se chama "O Orelhas", onde se come bem e se convive melhor. É dele e da família. Fica em Queijas e ninguém consegue fazer - perdoem o trocadilho fácil - orelhas moucas ao apelo. Razões não faltam.




Restaurante "O Orelhas", Queijas



A casa começou por se chamar Quicas, morava também em Queijas - na zona velha - e foi lá que conquistou a fama que hoje lhe rouba espaço . Não é fácil escapar à fila de apetites que se alinha diariamente à porta da nova morada. Continua a ser em Queijas, numa zona mais nobre, e deu lugar a um espaço renovado, com outra decoração e cheio de luz - coisa cada vez mais rara. Nos tempos do Quicas nem o aspecto mais "atascado" prejudicou alguma vez a qualidade primorosa de uma cozinha com muitos segredos. A servir à mesa desde 1997 - já lá vão 9 anos -, a simpática e afável família Travassos tem nas orelhas do Paulo o melhor cartão de visita. Razões para um sucesso que se alimenta dia a dia e que tem tudo parar durar.




Restaurante "O Orelhas", Queijas



Numa Revista Extra do Expresso, que se dedicou a provar os vinhos das garrafeira de restaurantes nacionais, "O Orelhas" conquistou um honroso décimo segundo lugar. E não pensem que foi um favor. Deitadinhas e devidamente acondicionadas na dita garrafeira há cerca de nove mil garrafas de pelo menos duzentas e vinte marcas diferentes. Pode encontrar, entre todas as preciosidades, um Barca Velha de 64. E até à colheita de 91 não se iniba de mandar vir uma garrafinha. Cuidado que nestes casos as contas costumam engordar mais que as barrigas que por lá se sentam com regularidade. Mas dias não são dias e um Barca Velha de vez em quando até nos faz esquecer as agruras que passámos para ganhar os trocaditos que lá vamos gastar. Que venha então uma garrafa. Ah é verdade, não há Visa.




António Travassos


O pai Travassos toma conta da cozinha. Os segredos só cabem nas receitas, quanto ao resto é feito com toda a arte ali bem à vista de todos. Quem não deve não teme, e com a limpeza que se nota em todos os cantinhos não há nada para esconder. Mas há muito para mostrar. Carne tenra e peixe fresco que sem demora hão-de cair na mesa. A espera é mínima desde que garanta um lugar. E garantir não é fácil.

O Travassos pai, António, andou anos a desmanchar carne para restaurantes - era artista no cortar -, agora aprimora-se nos temperos. Depois de quarenta anos a trabalhar para os outros abriu casa própria e é um ver se te avias. Não é homem de silêncios e não se cansa enquanto não ajuda o cliente a escolher a melhor opção. Não vende gato por lebre, mas tem uma Cabidela de Coelho de chorar por mais. E há Lebre, verdadeira, com feijoada e Castanhas. Mas há mais. Muito mais!




Restaurante "O Orelhas", Queijas



De garrafas estamos conversados. Se entre nove mil de mais de duzentas marcas diferentes não encontrar um vinho a contento, não se sente. Não se sente bem de certeza porque é proeza difícil e inimaginável. Se é dos que se contenta com uma aguinha ou um sumito, então faça favor, que o resto vem a caminho. E o resto começa nas Farinheiras e Chouriças, nos Pastelinhos de Bacalhau, Pézinhos de Coentrada, Croquetes e Rissóis. Sabores caseiros e ainda quentinhos. Um luxo! Segue-se um leque de escolhas com muitas opções: Arroz de Lampreia, Cozido à portuguesa, Massada de Jardineira ou de Garoupa, Secreto de Porco Preto, Peixe ao Sal, Bacalhau à Zé do Pipo e Feijoada de Choco. Da Feijoada de Lebre e da Cabidela de Coelho já lhe falei umas linhas atrás,. Nas sobremesas não há registo de novidades mas tudo o que se segue é caseiro e de paladar apurado: Sericáia com Ameixa, Barriga de Freira, Arroz Doce, Leite Creme e Salada de Frutas. No fim do repasto, faz companhia ao café uma aguardente de Marmelo - produção da casa - que podia chamar-se "Coice de Mula" ou coisa que o valha. O melhor é provar uma dose pouco generosa, não vá gostar e sair aviado para aventuras pouco honrosas e muito perigosas. E beber em demasia não faz mal apenas à condução. Em boa verdade não faz bem a quase nada.




Restaurante "O Orelhas", Queijas



Se optar por seguir a sugestão pode muito bem dizer que vai daqui. Ninguém lhe leva a mal mas também não ganha nada com isso. A simpatia é de borla e em doses iguais para todos. Lá na casa faltam clientes e sobram amigos. Um dos preferidos dos donos, benfiquistas, é o guarda-redes Moreira. Deixou lá um presente há uns tempos e a promessa ainda não foi cumprida: ainda não emolduraram a camisola assinada, com direito a dedicatória especial.




Restaurante "O Orelhas", Queijas



A casa fica em Queijas, na parte nova depois do Hotel Amazónia Jamor, Rua Cesário Verde, nº80, Loja F. O telefone é o 21 416 45 97. Servem-se refeições entre as 12.30 e as 16 horas, e entre as 19.30 e as 22.30. Não vá à espera de um local de luxo, porque vai encontrar apenas uma ementa confeccionada com todo o gosto, num local familiar onde se vai sentir em casa logo na primeira vez. Bom apetite!

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi pessoal as fotos ficaram bem legais um grande abraço do amigo Araujo pra família Orelhas e pro cabeça chata da terra da mulher macho.Sinto saudades qualquer dia desses a gente conversa.
E viva o Benfica é o Maior.