21 abril, 2006

O Fracasso do Amor


Fisherman's Blues - Expo, Lisboa - 2004-03-08
Foto André Antunes


Por agora é só um sonho. Um dia há-de ser um livro. Cabe neste blogue porque os livros também nos ajudam a viajar.


Capítulo 7


- Lucinda! Oh Lucinda! Porra mulher onde é que andas? Caramba! Raio da velha, só aparece quando não é precisa. Entornasse eu uma cerveja ou deixasse a beata moribunda beijar a mesa e vinha logo a correr só para me massacrar o juízo. Lucinda! Oh Lucinda! Anda cá caramba, ajeita-me aqui a almofada e traz a cerveja que vai começar o Benfica. Raça da velha! Se me descuidasse aparecia logo de nariz no ar a lamentar-se, que não tenho maneiras e que devia ir à casa de banho em vez de largar o cheiro pela casa. Nunca vem ninguém Lucinda, estás preocupada com quem? Comigo diz ela, que não tenho maneiras nenhumas e que não tenho remédio. Lucinda! Oh Lucinda! Se fosse para dar uma mola à vizinha de cima ou tomar conta do puto de baixo aparecia logo a correr, para mim é que nunca tem tempo. Birrenta! Que não devia andar de pijama em casa, que homem decente deve barbear-se. Eu?! Para quê?! Nunca cá vem ninguém Lucinda, só tu. E não sou gente diz ela? És, claro que és, mas daí até me vestir para ti vai uma distância mais longa que daqui ao Estádio da Luz. Lá é que eu devia estar, a ver o meu Benfica. Lucinda! Oh Lucinda!
- Oh pai, esteja calado, a mãe já cá não está.
- Não está? Onde é que foi?
- Foi viver um bocadinho já lá vão 13 anos. Já tomou os comprimidos?
- Já! Agora deixa-me ver o Benfica.
- Oh pai, o Benfica não joga hoje.
- Joga, joga. Se a tua mãe chegar diz-lhe que quero bacalhau assado.
- A mãe não vem. Agora durma e saia da varanda antes que os vizinhos façam queixa de si... por estar sem pijama.
- Estou à espera da tua mãe. Uma santa! Que falta me faz. Lucinda! Oh Lucinda! Não demores meu amor...

Sem comentários: