17 abril, 2006

Maiorca


Magalluf, Palma de Maiorca
Espanha



Que se calem todos os que passam a vida a dizer que nunca se deve voltar onde já fomos felizes. Puro engano. No regresso a Maiorca, desde o primeiro minuto, percebemos desde logo que só mudou o que é preciso e que se manteve tudo o resto. A beleza de uma ilha paradisíaca de areia fina, limpa e dourada, de águas quentes, cristalinas e transparentes. Maiorca é uma ilha que nasceu e vive para o turismo de massas, mas que não se deixa enredar na loucura que os turistas trazem na bagagem.




Magalluf, Palma de Maiorca
Espanha



Maiorca organizou-se para receber cada vez melhor, com mais qualidade, simpatia e afabilidade. Saiba que na ilha é possível conviver com fertéis planícies e picos inóspitos, com largos areais e penhascos abruptos, com muito lazer e mais trabalho ainda.
O aeroporto de Palma é feito à medida de quem chega. E são muitos os que desembarcam diariamente ao longo dos 365 dias de cada ano. Moderno, arejado, organizado. Há espaço para dezenas de autocarros ao mesmo tempo. Viajámos da barafunda da Portela, em Lisboa, à tranquilidade de Palma em hora e meia. No aeroporto da ilha há um bulício sadio que se rege pelo compasso dos operadores de turismo que recebem gente dos quatro cantos deste mundo redondo. Estamos finalmente em férias e ainda não chegámos ao hotel.
O Twingo há-de fazer sempre parte do roteiro das nossas aventuras na ilha. O tecto desaparece num ápice para descansar sobre o vidro traseiro. Fica de férias como nós. O céu de Maiorca está sempre bonito e quente, de dia e de noite, e nós não desperdiçamos um segundo desta comunhão que nos agrada. Nas longas, largas e bem cuidadas estradas da ilha, havemos de deslizar outra vez como na primeira, despreocupados e deslumbrados. Em Maiorca é sempre possível um novo deslumbramento com uma velha imagem.




Calla em Palma de Maiorca
Espanha



Almoçar junto à praia não é, definitivamente, uma aventura. Há espaços bem cuidados e limpos, com esplanadas dignas do nome e serviço a condizer. O que pedimos corresponde ao boneco do menú, chega num abrir e fechar de olhos ao colo de um senhor de sorriso aberto e muitas graçolas na ponta da língua. O Porto, Figo e Rui Costa, o "bacalao com patatas", Lisboa e a famosa e apregoada simpatia lusitana servem para entremear a conversa cheia de pedidos urgentes, satisfeitos com afabilidade e diligência.
Há-de ser sempre assim na ilha onde até o café ainda chega quente. Mentem os que se queixam de mau trato por parte da "grande família espanhola" que se atropela neste albergue de verão. Há-de haver boas queixas de maus exemplos mas são apenas as excepções que não fazem regra. A ilha recebe quem chega da mesma forma, mesmo que sejamos os únicos portugueses com lata para nos sentarmos num bar alagado de alemães ainda mais alagados em cerveja e marisco. Quase não se nota. Somos um bocadinho mais silenciosos e discretos. Porque será então que estão a olhar ? Afinal talvez se note.
A menina Schiffer, modelo internacional, bonita e graciosa é também - e não será novidade nenhuma - uma senhora de bom gosto. Reza a lenda que se vê em dias bonitos empoleirada na sua vivenda luxuosa em Andratx. Será apenas nas pausas de uma vida cheia de glamour e atribulações. Andratx é um local bonito, com uma costa escarpada sobre um mar transparente, e onde sobressaem as torres de vigia empoleiradas na colina sobre a cidade de casas brancas e ocre. A cinco quilómetros, em Port d'Andratx, mora o luxo e a elegância. A antiga vila de pescadores é hoje poiso obrigatório para ricos e famosos, que passeiam os iates pelo mar e as "máquinas" por terrra. Gente que vive em casas de luxo, que parecem pequenas vistas de fora mas são enormes olhadas por dentro- no bom gosto e no tamanho. Andratx é um canto ideal para um conto...de fadas... como a menina Cláudia, modelo internacional, bonita e graciosa. Reza a lenda que se vê em dias bonitos empoleirada na sua vivenda luxuosa...




Calla em Palma de Maiorca
Espanha



O norte, tal como em Porugal, é a região mais bonita de uma ilha que não tem zonas menos belas. Em Maiorca a adjectivação para a beleza parte sempre de um patamar elevado. Há sempre um local belo, e outro que é mais belo ainda sem que o anterior possa desconsiderar-se. Alcúdia, Pollença e o Cabo Formentor são passagens obrigatórios num roteiro que não pode ficar-se pelas imediações do hotel. Há que abusar do Twingo e fazer render o aluguer diário. Este ficou íntimo de tanto convívio com a família.
A Baía de Pollença combina campos férteis, frescos e verdejantes, com um mar tranquilo, quente e em tons turquesa. Há uma montanha que espreita a Baía e que esconde o Cabo Formentor. Havemos de espreitar outra Baía, a do Cabo, depois de serpentear o asfalto sinuoso, num sobe e desce que se aconselha lento e cheio de cautelas. É de agitar o estômago dos mais fortes, mas vale a pena. Andámos duas horas no mar e menos de dez minutos na areia, dourada e limpa. É sempre assim em Maiorca, o Mediterrâneo aquece as águas que nos aquecem o corpo e a alma, e incendeiam paixões, mesmo as que andam mortiças. Terapia mais que aconselhável para casais há beira de um desgosto.




Calla em Palma de Maiorca
Espanha



As Callas, pequenas enseadas tranquilas, são um dos cartões de visita da ilha encantada. Há dezenas, cada uma mais bela que a outra. A Calla Ratjada abriga uma praia paradisíaca, uma das que podemos referir, sem medo do ridículo, nos questionários de verão que enxameiam os jornais, assustados pela calmaria excessiva do período estival. A Playa Agulla é paragem obrigatório no roteiro do norte, que no regresso tem de passar por Porto Cristo, com uma visita, também obrigatória, às grutas. Entre a bonita e moderna cidade de Palma -parece Madrid em ponto pequeno - e o Norte há dezenas de quilómetros de asfalto quente e bem tratado, com vista para vilas cuidadas e bonitas, rodeadas de campos fertéis em cereais e frutos. As vinhas, principalmente em torno de Binissalem, completam o ramalhete das fontes vitais de uma economia que se alimenta, de forma glutona, do turismo- profissional e agressivo, quase imbatível na relação qualidade/preço.
Para a história de mais uma viagem de boa memória fica uma casa de banho, pré-fabricada, perdida numa sombra de um parque de estacionamento da Playa Agulla. Limpíssima, sem cheiros - nem maus nem bons em excesso, que também incomodam -, sem inscrições nas portas e paredes. Um local agradável - dentro do género -, a condizer com a qualidade da praia. A senhora que parece distraída à porta, concentrada no seu tricô, junto à generosa caixa de gorjetas, não perde um segundo nas verificações pós-necessidades fisiológicas. Há uma esfregona que se farta de trabalhar para nosso prazer e satisfação. Uma casa de banho destas pode dar-nos a mesma sensação de um oásis no deserto.




Cidade de Palma Nova - Palma de Maiorca
Espanha



Em Maiorca, a cidade de Palma é um dos locais de excelência a não perder. A capital é bonita, elegante e charmosa, de uma riqueza cultural que não pode passar despercebida. Desde o tempo dos mouros que as fontes e os pátios são imagem de marca. Já lá vão mais de setecentos anos. Em 1229, depois da conquista, Jaime I não evitou o deslumbramento e escreveu:" Pareceu-me a mais bela cidade que jamais vi." Seria exagero, mas ainda hoje não passam despercebidas as igrejas sumptuosas, as mansões da cidade antiga, os enormes edifícios públicos, os cafés dignos do nome, verdadeiros locais de prazer e exemplos de bom gosto. A Catedral e a Basílica merecem uma visita, o Palácio de Almudaina, e a marginal, longa e cheia de glamour. Uma cidade ainda mais vaidosa desde que a equipa, em finais de Junho, chegou a casa com a Taça do Rei- troféu muito apetecido naquele que é considerado o futebol mais competitivo do mundo.
Junto à cidade há ainda a imperdível Marina de Portals Nous. Vilamoura será até mais bonita, mas menos rica em celebridades e ostentação.
O motor a roncar na pista e tu a repetires que havemos de voltar. Pois havemos, só os dois, em mais uma das muitas luas-de-mel que fizemos questão de partilhar antes da verdadeira. Nós sem filhos andámos uma semana em treinos. A Larinha quase virou o hotel ao contrário. Uma filha de um ex-ciclista e de uma brasileira só podia ter um pedal daqueles. O António e a Flávia precisavam mesmo de ajuda.
O motor a roncar na pista e tu a repetires que havemos de voltar. Pois havemos, só os dois, sem a Larinha de quem tanto gostamos a gastar-nos o parentesco. Tio para aqui, Tia para ali. E nós sem sobrinhos, tios emprestados.
O motor a roncar na pista e tu a repetires que havemos de voltar. Pois havemos, só os dois, para voltarmos à praia de Es Trenc, a última praia selvagem da ilha, onde o naturismo nos devolve os nús do Meco em versão castelhana.
O motor a roncar na pista e tu a repetires que havemos de voltar.
Pois havemos. Só os dois!




António Esteves e Andreia Duarte
Palma Nova, Palma de Maiorca
Espanha
Julho de 2005



E vão três verões na ilha. Juntos. Para ela já são oito. Ah pois...

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